Término do tempo
- Glória Martins
- May 16, 2016
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De todas as vezes que passo por ali, ele ali está.
Impávido e sereno, dormindo. Como se o mundo se resumisse àquele banco, naquela paragem. E possivelmente é disso que se trata.
De uma espécie de casa de visita. Um local de passagem, onde chegam e de onde partem. Um limiar de desencontros que nunca chegam a permanecer.
E pergunto-me de todas as vezes se quererá conversar. Se quererá ter alguém que o ouça. Penso em acordá-lo e percebo que não tenho o direito de me intrometer. Percebo que aquela casa de visita, apesar de visível, não me dá o direito de aproximar.
Há quem tenha decidido esperar que o tempo termine. Como se a vida não tivesse passado de um culminar de actos falhados. Há quem se limite a esperar. Eternamente. Numa paragem de autocarro. Como se algum dia pudesse guiá-lo de voltar a si.
Resumir uma vida à solidão e perceberes que é disso que se trata, é como levar um murro no estômago.
Sei que um dia não estará lá. E que me irei perguntar qual terá sido o caminho que levou.
Contudo aquela paragem nunca mais será a mesma.
Sem saber, foi onde nos encontrámos dia após dia e onde, mesmo sem dizer uma palavra, me foi ensinando a importância do tempo.

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